Uma das iniciativas de vacina contra o vírus da zika, em
testes no Instituto Evandro Chagas, sediado no Pará, já
apresentou resultados promissores em camundongos e primatas, e deverá ser
testada em humanos em 2018. A informação foi divulgada nesta sexta-feira (11)
na XIX Jornada Nacional de Imunizações, evento organizado pela Sociedade
Brasileira de Imunizações, em São Paulo.
O desenho do estudo em humanos será definido neste ano
pelo instituto, que está desenvolvendo a vacina em parceria com a Universidade
do Texas e com apoio da Organização Mundial de Saúde e do Ministério da Saúde
no Brasil.
“As iniciativas com a vacina de zika estão andando mais
rápido porque não foram identificados outros sorotipos do vírus, como é na
dengue. Com isso, a complexidade é menor”, diz Consuelo Oliveira, pesquisadora
clínica do Instituto Evandro Chagas.
Os resultados em camundongos já foram
publicados em julho na revista científica “Cell Reports”. Já os resultados
em primatas também foram promissores, mas ainda não foram publicados em revista
científica e, por esse motivo, não estão sendo divulgados.
Consuelo diz, no entanto, que os resultados foram
positivos em ambos os testes. No estudo em camundongos, 46 cobaias foram testadas.
Metade recebeu o imunizante e o restante recebeu uma “vacina falsa”. Nessa
primeira fase do estudo, camundongos que receberam o imunizante apresentaram
anticorpos contra o vírus zika.
Já na segunda fase do estudo, após o acasalamento das
fêmeas, pesquisadores observaram que o vírus da zika sequer chegou até a
placenta -- o que trouxe a expectativa de que a vacina pode proteger o grupo
mais vulnerável ao vírus: as mulheres em idade fértil, exatamente o grupo
definido pela OMS como prioritário para receber a vacina.
“O que foi interessante é que, nas cobaias não vacinadas,
vimos que o vírus fez o mesmo percurso observado em humanos. A placenta com
déficit de nutrição, os bebês nascendo pequenos, as malformações...”, explica
Consuelo.
“Esse trabalho tem sido objeto de muita expectativa e nos
deu base para analisar o estudo multicêntrico em humanos”, diz a pesquisadora.
“Queremos reproduzir o que de maneira fantástica encontramos nessa primeira
parte da pesquisa.”
Ao todo, há 41 iniciativas no mundo em busca da vacina,
diz Consuelo. São várias as estratégias: há testes com vírus enfraquecido, com
o vírus inativado (ou seja, morto) e com a vacina de DNA -- quando apenas o
material genético é introduzido no imunizante.
O Instituto Butantan também faz análises preliminares com
uma vacina pentavalente -- que deverá ser usada contra todos os sorotipos da
dengue e também contra o vírus zika.
Mutação e dificuldades
Sendo um vírus de RNA, o zika é mais suscetível a
mutações mas, segundo a pesquisadora, não são mutações robustas o suficientes
-- pelo menos até agora -- para afetar a resposta da vacina. “Às vezes, é o
deslocamento de uma proteína”, diz.
Também, desde 1947, quando o zika foi identificado numa
floresta homônima, não foram registrados outros sorotipos do vírus, o que
também poderia aumentar a complexidade de se obter a vacina.
Agora, uma questão a ser analisada em estudos em humanos
será se a vacina anti-zika poderá gerar uma infecção "amplificada" em
populações previamente expostas a outros flavivírus, como é o caso da
brasileira. “Essa é a uma questão que está preocupando alguns
pesquisadores e será analisada”, diz Consuelo. Fonte: G1 Caruaru