Não foi a primeira e
provavelmente não será a última vez que um encontro entre João Doria e líderes
evangélicos termina com clamores para que o prefeito de São Paulo seja o
candidato do PSDB à Presidência em 2018.
Mas a reunião de Doria com
mais de 150 pastores na noite desta sexta-feira (7) teve um componente inédito:
os gritos de “glória a Deus” e “amém”, reações sempre que alguém levantava a
hipótese de uma candidatura presidencial, foram proferidos na sede do Executivo
paulistano.
Segundo presentes, a
prefeitura jamais havia abrigado um evento para evangélicos, ao menos não um
com aquelas proporções.
O evento foi orquestrado
pelo presbítero Geraldo Malta e pelo pastor Luciano Luna, assessores religiosos
informais do prefeito. A mesma que organizou cerimônia similar para o
governador Geraldo Alckmin um mês atrás, no Palácio dos Bandeirantes.
A reunião na Prefeitura foi
maior (mais do que o dobro de presentes) e, segundo pastores que conversaram
com a reportagem, mais genuína. No Bandeirantes, Alckmin foi saudado como bom
nome para disputar as eleições presidenciais, mas o coração do segmento estaria
com Doria.
O encontro no sétimo andar
do prédio onde o prefeito despacha durou uma hora e meia, ensanduichado por uma
oração de abertura e outra de encerramento.
Os pastores se alternavam em
discursos polvilhados com tom de campanha nacional enquanto Doria sorria numa
mesa com seu vice-prefeito, Bruno Covas, e três de seus secretários -Julio
Semeghini (Secretaria de Governo), Eloísa Arruda (Direitos Humanos) e Filipe
Sabará (Desenvolvimento Social).
“Mais de 80% do segmento
evangélico do país” estava ali representado, disse Malta ao microfone.
“Hoje o senhor está aqui, mas
quero te ver lá”, disse a vereadora Rute Costa (PSD), filha de José Wellington
Bezerra da Costa, presidente da Convenção Geral das Assembleias de Deus do
Brasil.
Dizendo falar em nome do
pai, Rute continuou: “Sei que o propósito do senhor é este. Sei que Deus tem
outros voos para você. Vejo nisso tudo um grande plano de Deus para esta nação.
Nosso povo, João, tem estado de joelhos orando por socorro”.
A vereadora comparou o
prefeito a David, que trava uma batalha bíblica contra o gigante Golias. “Ele
não era alto, era baixo. E era valente. Como Doria também é. O que o senhor fez
na cracolândia foi valente.”
Ligado à Assembleia de Deus,
o vereador João Jorge (PSDB) tinha puxado o coro presidencial minutos antes.
“Ninguém falou aqui ainda, mas se ano que vem [o sr. concorrer]…” O público
reagiu num coro de “amém”.
Jorge prometeu entregar dois
projetos de lei na Câmara Municipal: um para facilitar a obtenção de alvarás
para igrejas e outros com uma versão “mais realista” da lei do Psiu, que
costuma punir instituições evangélicas por cultos barulhentos.
“É um constrangimento para
nós [ser penalizado], João, acha que isso nos agrada? No dia seguinte a
imprensa bate na gente, bate no senhor”, disse.Jorge louvou Doria como “um
homem de Deus que não fala palavrão, não bebe, não fuma”. O próprio prefeito
reforçou as credencias de bom moço. “Minha formação cristã, católica, me fez
distante de bebida, tabaco.”
O tucano contou que começou
a se aproximar do segmento evangélico nas prévias partidárias que o ungiriam
candidato de seu partido em 2016. “Fui gradualmente me entusiasmando. Me senti
completamente dominado, feliz.”
Os líderes religiosos também
celebraram a sanção sem vetos do PPI (Plano de Parcelamento Incentivado)
aprovado na Câmara Municipal, que prevê anistia a dívidas de igrejas.
Na saída do encontro, cada
convidado recebeu uma caixa de vitaminas com rótulo “DoriaVit (“especialmente
formulado para o trabalhador”), que continha o aviso: “Contém alta dosagem de
trabalho”. Com informações da Folhapress)