A um ano da largada oficial,
quatro políticos já estão na corrida pelo Planalto: Lula, Ciro Gomes, Jair
Bolsonaro e Alvaro Dias
Fonte:Veja - Edoardo Ghirotto
O Brasil está a menos de um
ano das convenções partidárias que lançarão os próximos candidatos à
Presidência da República. As siglas políticas poderão se reunir entre 20 de
julho e 5 de agosto de 2018 para definir as chapas que deverão ser inscritas
até o dia 15 de agosto. O primeiro turno das eleições será em 7 de outubro.
O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva (PT) já está em campanha. O petista, sentenciado pelo juiz
federal Sergio Moro a nove anos e seis meses de prisão no âmbito da Operação
Lava Jato, só poderá se lançar como candidato se não for condenado em segunda
instância.
Outro político que já está
na corrida é o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ), que deve trocar de
partido e tem se portado como um antagonista à candidatura de Lula. Ele terá
até o dia 7 de abril para estar filiado a uma sigla. Também já estão na pista o
ex-ministro Ciro Gomes (PDT) e o senador Alvaro Dias (Podemos-PR).
A ex-senadora Marina Silva
não tornou oficial sua pré-candidatura, mas a Rede – partido que preside –
trabalha internamente com os cenários que ela terá de enfrentar para não perder
a terceira eleição consecutiva – chegou em terceiro lugar em 2010 e 2014. No
PSDB, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, conseguirá se lançar na
disputa se barrar o crescimento do prefeito paulistano, João Doria, e superar a
tímida concorrência do senador José Serra (SP).
Há ainda surpresas que podem
aparecer na disputa, entre elas o ex-presidente do STF Joaquim Barbosa, que
conversa com a Rede e o PSB, o atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles
(PSD), e o senador Cristovam Buarque (PPS-DF). Já o PMDB, o maior partido do
país, deve entrar em mais uma eleição sem ter uma indicação própria ao Planalto
Lula
O ex-presidente Luiz Inácio
Lula da Silva, de 71 anos, é a única opção que permite ao PT sonhar com o
retorno ao Palácio do Planalto. A última pesquisa Datafolha, de 26 de junho,
mostrou que o petista tem 30% das intenções de voto no primeiro turno –
Bolsonaro, segundo colocado, soma 16%. A candidatura depende, no entanto, da
decisão que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4) emitirá sobre a
condenação do petista em primeira instância.
Se o TRF4 validar a decisão
de Moro antes de 15 de agosto, prazo final para o registro de candidaturas, o
ex-presidente será enquadrado na Lei da Ficha Limpa e ficará inelegível. Caso a
decisão seja proferida após a data limite, Lula ficará com a candidatura
pendente de uma decisão judicial.
Há alas dentro do PT que
defendem um boicote do partido às eleições caso Lula seja impedido de
concorrer, sob a alegação de que o pleito seria fraudulento. O ex-prefeito de
São Paulo Fernando Haddad, principal alternativa do partido à candidatura do
ex-presidente, contabilizou apenas 3% das intenções de voto na última pesquisa
Datafolha. Outro cenário possível para a sigla seria declarar apoio à
candidatura do pedetista Ciro Gomes.
Ciro Gomes
A pré-candidatura de Ciro
Gomes à Presidência da República foi anunciada pelo PDT em dezembro de 2015.
Desde então, o ex-ministro da Integração Nacional do governo Lula viaja pelo
país e investe em declarações controversas para ganhar terreno entre os eleitores
de esquerda. Em março, Ciro afirmou que receberia a “turma” do juiz Sergio Moro
“na bala” para não ter de cumprir uma eventual ordem de prisão. Em outra
ocasião, o ex-governador do Ceará e ex-ministro disse que o prefeito de São
Paulo, João Doria (PSDB), era um “farsante”.
Ciro, de 59 anos, vinha
dizendo que não se candidataria à Presidência caso Lula estivesse no páreo, mas
aos poucos tem mudado o tom de suas declarações. Na terça-feira, ele fez
diversas críticas ao ex-presidente e o responsabilizou pela crise política do
país. “Lula é sombra de mangueira. Não nasce nada embaixo. Está errado”, disse
o pedetista ao jornal Valor Econômico.
O presidente do PDT, Carlos
Lupi, disse que Ciro precisará honrar o compromisso firmado com a legenda. “Ele
terá de acatar a decisão do partido. Tivemos em março a nossa convenção
nacional, e a candidatura do Ciro foi confirmada por ampla maioria. É
pouquíssimo provável que haja uma desistência, porque ele passa a ser um
instrumento da unidade coletiva. Isso é preponderante diante de sua vontade
pessoal.”
Lupi disse que a experiência
de Ciro será um diferencial para conquistar o eleitorado, sobretudo a parcela
que ficará “órfã” caso Lula seja impedido de concorrer. “Não creio que o país
partirá para uma aventura. A população quer alguém que conheça a máquina e que
já tenha sido testado. Podem ter ocorrido polêmicas e afirmações mais ásperas
por onde o Ciro passou, mas nunca houve corrupção. Essa mazela ele não tem em
seu histórico.”
O presidente do partido diz
não contar com a possibilidade de Haddad sair como vice-presidente na chapa
encabeçada por Ciro. “Houve conversas paralelas e sondagens, mas considero
particularmente difícil, porque o PT não desistirá da candidatura do Lula.”
Jair Bolsonaro
O militar da reserva vinha
externando o desejo de concorrer à Presidência desde 2014. Há 27 anos no
Congresso, Jair Messias Bolsonaro, 62 anos, anunciou em março de 2016 a
pré-candidatura pelo PSC, mas desavenças com o presidente da sigla, Pastor
Everaldo, fizeram o deputado federal buscar um novo partido para se lançar ao
cargo.
Bolsonaro afirma que o prazo
limite para deixar o PSC é março de 2018, quando está marcada a próxima “janela
partidária” – um projeto de reforma política pretende antecipar o prazo. O
deputado já teve conversas com o PSDC, de José Maria Eymael, o PHS e o Muda
Brasil, um projeto de partido capitaneado por Valdemar Costa Neto, condenado no
Mensalão.
Apesar de flertar com siglas
nanicas, Bolsonaro afirma que conseguirá vencer a eleição sem ter tempo de
televisão nem fundo partidário. “As redes sociais terão um peso muito grande
aqui no Brasil. Estou apostando que irá para o segundo turno quem tiver 22% das
intenções de votos. O horário gratuito tem a sua importância, mas está perdendo
força. Se eu for para o segundo turno, todo mundo estará em situação de
igualdade.”
O deputado federal diz que a
candidatura à Presidência é “uma missão de Deus” e que considera um “absurdo”
ser classificado como um político de extrema direita por conta de seus posicionamentos
conservadores e do apreço que nutre pela ditadura militar (1964-1985). A base
de sua plataforma política, diz, será “diminuir a temperatura da questão da
segurança no país”.
Alvaro Dias
Eleito senador pela quarta
vez em 2014, Alvaro Dias deixou o PSDB no ano passado para se filiar ao PV. Em
maio, o político de 72 anos trocou novamente de partido e passou a integrar o
quadro do Podemos, que foi autorizado pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) a
substituir o registro do PTN. Dias disse aceitou ser pré-candidato à
Presidência após uma convocação de sua nova sigla.
Dias já foi vereador,
deputado estadual e federal e governador do Paraná. Ele diz confiar no
julgamento das “pessoas lúcidas” para não sofrer com o desgaste que atinge a
classe política. “Espero que a população separe o joio do trigo e não
generalize”, afirmou. “O politico modernizador não é aquele que tem pouca
idade, mas aquele que tem a capacidade de fazer a leitura do dinamismo social e
das mudanças que ocorrem na sociedade.”
O Podemos carrega o mesmo
nome do partido de esquerda espanhol, mas, segundo Dias, terá um posicionamento
político de centro e será liberal na economia. “A consulta popular nos indica
que a maioria da população brasileira deseja isso”, disse o senador, que prefere
identificar sua atual sigla como um movimento. “A Lava Jato completou a
destruição dos partidos. Eles certamente serão julgados e condenados nas
urnas.”
Rede
“Não temos outra alternativa
que não seja Marina Silva. Ela é nossa
candidata a presidente e para quem eu trabalho nesse sentido”, disse o senador
Randolfe Rodrigues (AP), a principal liderança da Rede no Congresso. A
candidatura da ex-senadora de 59 anos é dada como certa pela sigla, mas Marina
não manifestou publicamente o desejo de entrar na disputa pela terceira vez
consecutiva.
Marina ficou em terceiro nas
eleições de 2010 e 2014. Na última pesquisa Datafolha, ela somou 15% das
intenções de voto e empatou tecnicamente com Bolsonaro na segunda colocação.
Segundo Randolfe, a ex-senadora lançará uma candidatura “antissistêmica e
contra o establishment que se tornou a política”.
Marina passou ilesa pelos
escândalos de corrupção que devastaram Brasília, mas ouve cobranças para ser
mais assertiva em seus posicionamentos. Randolfe afirma que as críticas são
resultado da oposição feita pela Rede “aos dois pólos de poder, caracterizados
por PT e PSDB”. “Alguém que se credencia dessa forma é atacado com mais intensidade.
A Marina tem se manifestado no tempo dela, segundo a metodologia dela.”
Houve também especulações de
que o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Joaquim Barbosa poderia ser o
vice-presidente de Marina. “Joaquim tem o perfil que a Rede pretende, mas essa
é uma decisão unilateral dele”, disse Randolfe. “Farei o que puder para Joaquim
se filiar ao partido. Estou convencido de que uma eventual chapa com ele e
Marina teria enormes chances de conquistar as eleições.”
PSDB
Assim como o PT, seu histórico
adversário, o PSDB sofreu com a implicação dos seus principais quadros em
escândalos de corrupção. O senador Aécio Neves (MG), derrotado no segundo turno
das eleições de 2014 por Dilma Rousseff (PT), foi varrido para fora da disputa
presidencial após se tornar alvo de nove inquéritos no STF. Entre as ações
investigadas está o pedido de dois milhões de reais que o senador teria feito
ao empresário Joesley Batista, da JBS.
A pré-candidatura será
disputada entre o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin – candidato ao
Planalto em 2006 –, e o prefeito paulistano, João Doria. O senador José Serra
(SP) – candidato em 2002 e 2010 – não descarta concorrer ao cargo, mas as
menções ao seu nome nas delações de executivos da Odebrecht diminuíram seu
capital político.
Alckmin, de 64 anos, foi o
único que externou a vontade de ser presidente da República. Também citado nas
delações da Odebrecht, o governador se fortaleceu dentro do partido ao defender
por diversas vezes o desembarque tucano da gestão de Michel Temer (PMDB). Ele
repetiu por diversas vezes que o compromisso da sigla deveria ser apenas com as
reformas políticas. “Defendi lá atrás que o PSDB não ocupasse cargos [no
governo]”, disse Alckmin, cujo partido tem quatro ministérios no governo.
A candidatura de Doria, de
59 anos, passou a ser vista com bons olhos pelo fato de o prefeito ser um
“outsider” que passou incólume por escândalos. Doria, que jura lealdade à
candidatura de Alckmin – seu padrinho político –, tenta ampliar o seu alcance
político com viagens pelo Brasil e declarações duras contra o ex-presidente
Lula e o PT. Falta, no entanto, fortalecer a sua imagem dentro do partido para
bater de frente com o governador paulista.
É o maior partido do Brasil,
com sete governadores e as maiores bancadas na Câmara e no Senado. Também é a
sigla do atual presidente da República, Michel Temer. Apesar dos números
expressivos, o PMDB não deu mostras de que terá um candidato próprio à
Presidência. “Ao longo dos anos, o PMDB ficou a reboque de partidos que não têm
a sua história em troca de cargos e favores de governo”, disse o ex-governador
do Rio Grande do Sul Germano Rigotto. “Rótulos de fisiologismo, clientelismo e
outros piores grudaram no PMDB por isso.”
Rigotto declarou, em maio,
que seria pré-candidato à Presidência pela sigla, mas diz ter feito o
pronunciamento para mostrar que o PMDB tem nomes e condições de construir uma
candidatura própria. “Eu não tenho mais mandato. Não tenho a visibilidade que
um mandato dá”, afirmou. “Mas o PMDB tem que construir uma candidatura e
empurrá-la com a força que o partido tem em todo Brasil, com bons tempos de
rádio e televisão, para ser uma alternativa a todo esse processo político. Quem
deve ser? É preciso buscar um nome nos próximos meses.”
Contra a proposta de Rigotto
pesam os altos níveis de rejeição ao partido. Todas as lideranças do PMDB foram
implicadas em escândalos, sendo que os ex-deputados federais Eduardo Cunha (RJ)
e Henrique Eduardo Alves (RN) e o ex-governador do Rio de Janeiro Sergio Cabral
estão presos. Temer é alvo de denúncia por corrupção passiva, enquanto os
senadores Renan Calheiros (AL) e Romero Jucá (RR) – presidente do partido –
estão atolados em denúncias.
Surpresas
Ser vice de Marina Silva não
é a única opção para Joaquim Barbosa, de 62 anos, Além de ter conversado com a
Rede, o ex-ministro do STF se reuniu com dirigentes do PSB. A oferta do partido
socialista seria uma candidatura própria à Presidência. “A decisão de me
candidatar ou não está na minha esfera de deliberação. Só que eu sou muito
hesitante em relação a isso. Não sei se decidirei positivamente neste sentido”,
disse Barbosa no início de junho.
O ministro da Fazenda,
Henrique Meirelles, de 71 anos, chegou a ser especulado como substituto de
Temer em uma eventual eleição indireta. O PSD, partido ao qual Meirelles é
filiado, não trata de nomes publicamente. Em nota, o presidente em exercício da
sigla, Alfredo Cotait Neto, disse que a legenda “possui bons quadros e buscará
lançar candidatura própria também na disputa presidencial”.
Já o senador Cristovam
Buarque (DF), de 73 anos, disse que poderia repetir a candidatura presidencial
que lançou em 2006 caso fosse do interesse do PPS. “Não vou pleitear, mas se o
PPS quiser, estou disposto e pronto. Numa disputa em que vemos pesquisas com a
cara do passado, com a cara de Lula e Bolsonaro, creio que qualquer político
tem o direito de estar disponível para concorrer à Presidência”, disse.
Cristovam afirmou que encontra simpatia para se candidatar à Presidência entre
as bases do partido, mas nunca chegou a tratar do assunto com os dirigentes do
PPS.