Nas entranhas da Ilha do Retiro,
a marca implacável do tempo. Ferrugens expostas, infiltrações espalhadas por
boa parte da estrutura. À espera para a construção da hoje utópica Arena Sport,
o estádio acabou preterido. “Preferiu-se não mexer em nada para não gastar
dinheiro, já que a Ilha seria derrubada mesmo”, confidenciou uma fonte à
reportagem. Resultado: em setembro de 2015, o caldeirão rubro-negro chegou a
sua menor capacidade de público desde 1960. Sob recomendação do Ministério
Público de Pernambuco (MPPE), por questões de segurança (como poder de
evacuação de torcedores em casos de emergência), o Adelmar da Costa Carvalho
passou a ter a capacidade de 20.718 pessoas. Antes de haver jogo, porém, o
clube conseguiu minimizar os danos e a capacidade ficou em 27.435.
A curva que vinha
descendente desde 2007, com a capacidade de público caindo ano a ano, obrigou o
clube a agir. Deixou-se de esperar pela arena que nunca veio para socorrer o
estádio. Tanto que a Ilha do Retiro versão 2017 já está maior. Após duas
temporadas, o estádio recuperou 1.565 lugares, chegando a 29 mil. O crescimento
faz parte de uma série de obras pontuais, iniciadas no ano passado, implantadas
a partir de um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o MPPE.
A capacidade de público é
ratificada a cada ano, através dos laudos de engenharia, segurança e bombeiros.
Apesar dos problemas, a Ilha do Retiro jamais forneceu maiores riscos aos
visitantes. São fatores como evacuação, pontos cegos e restrição de assentos
que o clube vem consertando. Com orçamento de até R$ 4 milhões, a estimativa do
diretor executivo do Leão, Fernando Halinski, é que as obras de qualificação do
estádio sejam concluídas até o fim de 2018 - como acordado no TAC. Com isso, o
Sport retomaria a capacidade de 2013, com 32.983 torcedores.
“Acredito que ainda neste
ano vamos aumentar a quantidade de público para uma capacidade intermediária
(entre 29 mil e 32 mil). Na medida em que concluirmos as obras, o Corpo de
Bombeiros faz a avaliação e vamos aumentando essa capacidade”, pontuou
Halinski.
Pontos críticos
As obras estão sendo
tocadas, mas há alguns setores do estádio ainda em situação crítica. O pior
deles é a parte interna da arquibancada frontal. Com inúmeras fontes de
infiltração, ferragens expostas, banheiros em estado de abandono, além de toda
uma gama de problemas referentes à acessibilidade. TAmbém à espera das obras, a
entrada dos não-sócios tem recebido alguns reparos emergenciais. Porém, ainda
vai passar por uma longa modificação.
“Toda essa parte dos bares
será adaptada para que o cadeirante possa ser bem atendido. Os banheiros vão
ser reformados e já estamos fazendo toda a recuperação das ferragens e
corrigindo os problemas de infiltração”, disse o engenheiro do clube, Luciano
Alves.
De fato, passando a vista a
rigor, a Ilha do Retiro tem problemas, mas também é um grande pátio de pequenas
obras. O setor das sociais já tem boa parte da estrutura adaptada. E vem
passando por melhorias, como a construção de rampas, entrada especial e mais um
banheiro exclusivo para cadeirantes. “A ideia é fazer da Ilha do Retiro um
estádio completamente acessível a todos”, pontuou Alves.
Torcida visitante
Um dos fatores que fez cair
a capacidade da Ilha do Retiro nos últimos anos foi uma exigência da Polícia
Militar. A arquibancada do placar é a única com escoamento direto para a rua.
Por isso, é a escolhida para o torcedor visitante. A ideia da diretoria
rubro-negra, através de obras e negociação com a PM, é fazer com que haja um
meio de fazer esses torcedores voltarem a ocupar a curva entre as arquibancadas
frontal e do placar. Ela possui um portão, que atualmente está fechado.
“Temos o portão 9, que
existe, mas não está ativado. Assim como falei antes, algumas obras serão
feitas. O portão está desativado por questão de segurança, sob orientação da
PM. Eles orientam que se faça assim e temos prejuízo com isso, é claro. Estamos
renegociando, está acontecendo uma conversa, mas precisamos ainda de um
amadurecimento, de testes. E junto à Polícia de Choque, ao Corpo de Bombeiros,
FPF, juntamente com a nossa engenharia, estamos viabilizando isso. O que estão
em dúvida é se a solução que apresentamos é viável”, explicou Halinski.
Uma das soluções seria
encontrar uma maneira de fazer a torcida do Sport chegar à arquibancada do
placar por dentro da Ilha do Retiro, fechando o portão de entrada externo,
deixando a rua livre para os visitantes entrarem para a curva do dentinho. A
ideia, porém, não é tão simples pois requer toda uma logística de fechamento de
ruas, envolvendo toda a estratégia que é de responsabilidade da Polícia
Militar.
Museu
O projeto do museu do Sport,
com uma grande reforma da sala de troféus e ampliação do espaço (englobando
toda a parte onde hoje ficam as secretarias) também está pronto. Aguarda a
viabilização do orçamento de R$ 1 milhão para ser iniciada. A ideia é que o
espaço fique pronto ainda na gestão do presidente Arnaldo Barros, até o fim do
ano que vem. “Temos o projeto e estamos buscando benefícios fiscais. Terminando
isso, em mais um ou dois meses, muito em breve, vamos lançar para grande o
público o projeto do museu. A ideia é que este ano coloquemos a ideia em
prática”, afirmou Fernando Halinski.
Nova rampa para os camarotes
Uma das principais obras
previstas pela engenharia rubro-negra diz respeito à construção de uma rampa
para os camarotes. Com saída para as quadras de tênis, o caminho servirá para
escoar a torcida em caso de emergência - o que hoje é feito somente via os dois
antigos elevadores do local ou pelas saídas das cadeiras. A exigência do Corpo
de Bombeiros atualmente faz o clube comercializar apenas cerca da metade da sua
capacidade total para o setor (682 de 1.438 lugares). A obra, porém, não é
barata.
“É uma escada que pode ter
dois acessos. É um projeto que está pronto e está aprovado. Temos o custo
orçado em R$ 1 milhão, mas estamos tentando baratear ao máximo, sem perder a
qualidade”, explicou Luciano Alves. “A gente conta com uma série de
necessidades mais urgentes e, por isso, acha melhor restringir o número de
pessoas nos camarotes, utilizando esse dinheiro em coisas mais urgentes, como
investir em jogador de futebol, por exemplo”, justificou Halinski.
Segundo o diretor executivo,
embora a Ilha do Retiro (inclua-se os camarotes) tenha a capacidade hoje para
receber os 34.500 torcedores de 2007, por exemplo, o maior rigor das exigências
dos Bombeiros fez com que o clube fosse mais exigido. A capacidade hoje
liberada diz respeito ao poder de escoamento do torcedor, garantindo assim a
segurança em caso de emergência.
“Aconteceu acidente há
alguns anos o incidente com a Boate Kiss (em 2013, no Rio Grande do Sul,
vitimando 242 pessoas). Isso fez com que os bombeiros fizessem uma revisão da
sua maneira de administrar grandes públicos e se tornaram mais rigorosos. Mas
não me cabe julgar o mérito de uma decisão técnica dos bombeiros, me cabe
cumprir”, pontuou Fernando Halinski.
E a Arena Sport?
Após o rompimento do
contrato com a Engevix, empreiteira que seria responsável pela construção da
Arena do Sport, em 2014, o Sport ainda tentou viabilizar outras parcerias a fim
de viabilizar a obra. Sem sucesso e com o sonho adiado por tempo indeterminado,
cogitou-se então uma grande reforma na Ilha do Retiro. Ainda sob a gestão do
ex-presidente João Humberto Martorelli, o clube optou por contratar uma empresa
de consultoria e transações corporativas, a EY (Ernst and Young), para realizar
um estudo de viabilidade e reformulação do Adelmar da Costa Carvalho.
Complexo com a Arena do
Sport foi orçado inicialmente em um custo de R$ 750 milhões
Contratada no meio de 2016,
a consultoria deverá ser concluída nas próximas semanas, segundo Fernando
Halinski. A expectativa é que a empresa possa indicar os caminhos mais
eficazes, bem como possibilidades sustentáveis de negócios entre a utópica
arena e uma possível reforma de ampliação do estádio seja decidida.
“A dúvida da gente é a
seguinte: vale mais a pena fazer uma reforma na Ilha do Retiro pensando para as
próximas décadas, porque o nosso interesse é atender bem ao sócio, com mais
conforto do que a gente tem hoje. Ou se é melhor construir algo novo e na
capacidade que a gente estima que vai ser a capacidade de público do futuro,
que ainda não há um consenso. O que é mais viável? Vale mais a pena reformar a
atual estrutura ou construir um estádio novo?”, indagou o diretor executivo.
Segundo o presidente do
clube, Arnaldo Barros, o momento econômico do país conta contra o Leão. Mas os
estudos da EY serão decisivos para o futuro do complexo rubro-negro. “O Sport
sempre vislumbrou e continua vislumbrando a arena, mas não quer dizer que vamos
fazê-la. Temos um projeto que é ativo do clube, mas se vamos fazer ou não é
outro problema. O que cabe a mim é zelar pelo projeto e analisar a viabilidade
dele. E quando disser que é viável, vamos reacendê-lo. Mas, com o momento
econômico do país, não vejo possibilidade. De qualquer forma, vamos aguardar o
posicionamento da consultoria”, ponderou.
"Parceiro externo"
Em paralelo, o Sport tenta
viabilizar parceiros, independentemente de o estudo indicar uma grande reforma
ou a arena. “Boa parte do nosso equipamento precisa ser reformado e a ideia é
que seja uma reforma ampla. O que estamos discutindo racionalmente, com muita
conta, é ver o que é mais viável em atração de recursos futuro, como
bilheteria, fazer shows, termos outras modalidades, parques de alimentação,
melhoria do parque aquático, etc. E provavelmente para isso vamos ter que ter
um parceiro externo”, revelou Halinski.
Termos de Ajustamento de
Conduta, em 27/09/2016
1) Compra de lixeiras (para
os boxes de venda) e sanitários (15 dias) - Realizado
2) Impermeabilização de
lajes, retirada de infiltrações, manutenção da infraestrutura elétrica e de
armaduras aparentes (7 meses). - Obras em andamento
3) Vagas de estacionamento
para idosos e deficientes (15 dias) - Realizado
4) Mais espaço na arquibancada
a deficientes, nova sinalização e melhora nas rampas de acesso para cadeirantes
(14 meses) - Obras em andamento
5) Melhorar o sistema de
combate a incêndio e pânico (24 meses) - Obras em andamento.Fonte:Diario de Pernambuco