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João Paulo diz que pode ser candidato a governador de Pernambuco

Na planície, sem cargo público, o ex-prefeito João Paulo continua ativo nas articulações partidárias e políticas. No dia em que recebeu a reportagem em seu escritório, no bairro de Santo Amaro, tinha marcado reuniões com três lideranças petistas e demonstrava ânimo ao falar sobre os rumos do PT, mesmo neste momento da Lava-Jato. Com mais de 40 anos de militância, João Paulo atualmente dedica parte do seu tempo ao Mestrado em Inovação e Desenvolvimento, bem como à neta de 11 anos, Anna, que mora com ele. Entre as idas e vindas para levar Anna à escola, no entanto, a política não sai de sua rotina. Recentemente, o petista reuniu-se com o ex-presidente Lula para discutir estratégias das eleições de 2018. Ele afirmou que há tempos não via Lula tão determinado para enfrentar o momento que está vivendo, disputar e vencer as eleições presidenciais. Os dois também conversaram sobre o futuro da legenda no estado e destacaram a importância de eleger uma bancada forte para a Câmara dos Deputados. O desafio será prioridade da legenda estadual - especialmente quatro anos depois de o PT perder todos os deputados de Pernambuco. João Paulo ainda falou sobre a hipótese de ser governador. “Estou aberto a todas as possibilidades”, disse o ex-prefeito.    

Quais os impactos das delações chamadas de o Fim do Mundo no PT Acho que os impactos não são apenas no PT, mas em todos os partidos, ou no mínimo nos partidos que disputam parte da hegemonia no Brasil, aqueles que têm bancadas expressivas. Este é um momento extremamente difícil porque atingiu as principais lideranças nacionais e pode ser comparado àquela trilogia Subterrâneos da Liberdade, de Jorge Amado, que eu li na juventude, no período da ditadura militar: Os Ásperos tempos, Agonia da noite e A luz no túnel. Acho que passamos dos ásperos tempos, estamos vivendo a agonia da noite, e com a esperança que venha a luz do túnel. Essas delações atingiram os partidos e o sistema de financiamento de campanhas políticas. Tudo isso acontece num momento difícil para a humanidade, numa época em que o mundo é dominado pela força do grande capital internacional. Você vê, agora, a Coreia do Norte com ameaça de guerra nuclear contra os Estados Unidos, uma guerra atômica. Não sabemos o que será do nosso pequeno planeta em relação ao universo. Isso exige muita ponderação, muito equilíbrio, muita parceria.   

O senhor tem conversado com o ex-presidente Lula? Eu estive com o presidente Lula recentemente e fazia muito tempo que não o via com tanta garra e determinação para enfrentar esse momento que está vivendo, que o partido está vivendo. A visita que ele fez a Monteiro, na Paraíba, foi uma overdose na veia de ânimo, de esperança, de saber quanto o partido fez pelo povo brasileiro. Eu estava com gripe, mas fui dirigindo, fiquei andando no sol, no meio do povo. Foi uma coisa extraordinária ver tudo aquilo.   

A impressão que dá é que não  há mais anos diferentes desde 2014? Eu estou pensando, inclusive, em aprofundar, numa tese de mestrado, o que aconteceu com o Brasil a partir de 2013. Existia no governo Lula autoestima, pleno emprego, investimentos espalhados, o país com uma credibilidade internacional muito grande, projetos de mobilidade, infraestrutura, programas sociais nas mais diversas áreas e de uma hora para outra essa autoestima do povo foi por água abaixo. O que estamos vendo é o sofrimento muito grande da maioria da população brasileira, principalmente no Nordeste. Celso Furtado já dizia que não há pleno desenvolvimento do Brasil sem o Nordeste e não há Nordeste sem a saída para o semiárido. Quando a gente vê as águas do São Francisco chegando a Pernambuco, ao Ceará, à Paraíba, a gente fica com as esperanças renovadas. Acho que foi um pouco isso que ajudou a reforçar o estado de espírito de Lula. Se não tirarem, através da judicialização, a possibilidade de ele disputar a Presidência, ele vai disputar e, a meu ver, vai ganhar porque ele tem um grande serviço mostrado ao povo brasileiro e nordestino.

Michel Temer está imprimindo uma agenda muito criticada pelos trabalhadores. Mesmo com tantos ministros envolvidos em denúncias, ele não abre mão de dois pontos: a reforma da Previdência e a reforma trabalhista.  

Primeiro, há um ódio de classe contra o PT. Segundo, articulou-se um conjunto de forças que não respeitou as regras e retirou a presidente da República do poder com o impeachment. Acharam que as denúncias de corrupção iriam só atingir o PT, mas atingiram um conjunto de partidos. Parte das pessoas está vendo a entrega das nossas riquezas, de todo o setor energético, a venda de nossas terras, do setor de petróleo, tudo sem nenhuma estratégia de soberania nacional. E a utopia do povo pode voltar. Nós entendemos que o presidente assumiu esse compromisso de votar a reforma da Previdência e a trabalhista com os grupos que o colocaram no poder. Fazia parte do plano.   

Vocês pretendem desfazer tudo que está sendo feito nesta área, caso vençam as eleições? Nós vamos continuar lutando por nenhum direito a menos. Entendemos que a parte do golpe de tirar Dilma a qualquer custo e o eixo da intolerância foi a entrega do nosso país para o capital internacional. Nenhum governo pensou em mudar a CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), somente o governo golpista para mexer de forma tão brusca na CLT. Estamos vivendo um estado de precariedade do trabalhador. Temos um grande avanço tecnológico no mundo que deveria mudar a qualidade de vida das pessoas. Temos uma disputa e vamos enfrentar. Nós vamos reagir.


Mas Lula também precisará ficar muito focado na defesa dele? Isso não atrapalha? Para barrar essa sangria nas riquezas nacionais, na entrega do patrimônio público e na retirada de conquistas dos trabalhadores, ele é o único líder capaz de mobilizar as massas. Ele está tendo pouca mobilidade para desempenhar o papel de ser um grande agitador de massas contra as reformas. Mas está muito determinado.   

O PT foi o partido mais atingido pelas delações da Lava-Jato e se propunha a combater a corrupção. Não acha que essas delações retiram o PT do páreo em 2018? Acho que o PT já foi penalizado nas eleições passadas, nas eleições para prefeitos e vereadores. O PT amargou uma derrota significativa no Brasil inteiro nas eleições passadas. Mas, por outro lado, como o golpe veio para cristalizar a retirada de conquistas do povo brasileiro e, acima de tudo, entregar o trabalhador à condição de semiescravidão, parte significativa da população já percebeu o que o golpe trouxe. Então, acredito que temos condições de recuperar a economia brasileira, a autoestima e levar o país à retomada do desenvolvimento com inclusão social.   

Como estão as movimentações do partido no interior do estado? O PT tem uma dificuldade muito grande no interior. Eu tenho conversado com Bruno Ribeiro e com outros setores sobre a necessidade de haver uma reformulação, de garantir a formação, a definição de metas e objetivos claros em função do papel do partido e suas políticas. Começamos a dar alguns passos nesse sentido. Lula até pediu que eu levasse um projeto para a gente analisar e eu vou começar a pensar e trabalhar… Um outro desafio é a participação da mulher. Apesar de o PT ter evoluído muito, no tocante à participação da mulher, o PT vai ter que inovar e investir mais. Tivemos dificuldade em 2016 na composição de candidatas. Temos que aparecer já e garantir uma paridade nesta participação, priorizando a capacitação da mulher e das nossas militantes. 

Como o senhor está avaliando o governo de Paulo Câmara? A maioria das pessoas com quem eu converso sempre fala que (Paulo Câmara) é uma pessoa boa, compreensiva, que tem um trânsito, mas ele tem governado num período de extrema dificuldade financeira para o estado. A aliança que ele fez para se eleger, com o DEM e o PSDB, foi uma mistura de jacaré com cobra d’água. Não era a linha tradicional do PSB. Tanto que já houve um afastamento. Você não sente aquela consistência na relação que o PSB tinha com o DEM, o PSDB e o PMDB. Não sabemos como vai ficar esse quadro, mas é um governo que está enfrentando muitas dificuldades, principalmente na segurança, na saúde e na conclusão das obras do governo passado. Mas o ambiente econômico pesou de forma definitiva.  

Existe a possibilidade de repetir a aliança passada e apoiar Armando Monteiro Neto (PTB)? O diálogo está aberto.


O senhor fala apenas “o diálogo está aberto”? Esse distanciamento é fruto da aproximação dele com o PSDB e o DEM? Conversar não faz mal a ninguém, nós estivemos juntos, mas não quer dizer que há um entendimento da política de alianças. Vamos começar ainda o aprofundamento.  

O PT sobreviverá num período de tão baixa autoestima e tanta decepção? Há uma decepção generalizada com a política e isso é ruim, porque a política é a base da nossa vida, abstraindo a questão de Deus. Isso atinge o conjunto dos partidos, mas temos uma esperança muito grande porque o PT mostrou que modificou muito a realidade brasileira, em todas as áreas, com o Minha Casa, Minha Vida, o Bolsa Família, a transposição do São Francisco, entre outros. No estado, o PT vive o momento de um grande entendimento. Bruno conseguiu fazer um trabalho muito bom, consolidou-se e se cacifou para ser o novo presidente do partido por unanimidade. Espero que, agora, a partir dessa maturidade, possamos trazer um novo ritmo e um novo resultado para o estado. Fonte: Diário de Pernambuco